Muitos irmãos, de várias partes do mundo, têm me pedido maiores informações sobre a teologia de Kenneth Hagin. Creio que este artigo ajudará os leitores a conhecerem melhor o pensamento do maior propagador do triunfalismo evangélico.
Quem foi Kenneth Hagin? Fiel discípulo de Essek William Kenyon (verdadeiro pai da confissão positiva), pregou inúmeros sermões sobre a fé e escreveu muitos livros e artigos, inspirando outros autores a publicarem obras sobre o poder da fé e a prosperidade do crente.
No seu último livro publicado, O Toque de Midas, Hagin condenou práticas que muitos propagadores da teologia da prosperidade dizem ter aprendido dele. Mas tomarei como base, neste artigo, as suas duas obras mais famosas, O Nome de Jesus e Zoe, a Própria Vida de Deus.
O NOME DE JESUS
Segundo Hagin, “Jesus se tornou como nós éramos: separado de Deus. Porque provou a morte espiritual por todos os homens. Seu espírito, seu homem interior, foi para o inferno em nosso lugar... A morte física não removeria os nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte espiritual” (O Nome de Jesus, Graça Editorial, p.25).
Há um desvio sutil na citada afirmação de Hagin, quase imperceptível, pois Jesus não se tornou como nós éramos, exatamente. Ele não se fez pecador. Antes, fez-se pecado, semelhante aos homens (2 Co 5; Fp 2.6-8; Rm 8.3).
Kenneth Hagin também afirmou que o Senhor Jesus foi ao Hades para sofrer em nosso lugar, declaração que não resiste a uma exegese bíblica. Segundo a Palavra de Deus, o Senhor sofreu e triunfou na cruz, dando ali no Gólgota o brado da vitória (Jo 19.30; Cl 2.14,15). Ele foi ao Hades, sim, mas como vencedor (pois havia vencido na cruz), e não para sofrer em nosso lugar (1 Pe 3.19).
No mesmo livro mencionado, Hagin asseverou:“Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de novo. Por que o seu espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de Deus. Lembra-se como ele exclamou na cruz: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’” (idem, p.25).
Por mais lógica que aparente ser a declaração acima, é errônea. O Senhor Jesus não nasceu de novo. Sabemos que o novo nascimento é para os pecadores que se arrependem de seus pecados (Jo 3.1-5; Tt 3.5), e o Senhor nunca pecou, sequer por pensamentos — porque nunca deixou de ser Deus (Hb 4.15). Daí as Escrituras dizerem que Ele é o Cordeiro imaculado e incontaminado (1 Pe 1.18,19).
Prosseguindo em sua argumentação, Hagin declarou:“O pecado separa de Deus. A morte espiritual significa a separação de Deus. No momento em que Adão pecou, ficou separado de Deus... A morte espiritual significa mais do que a separação de Deus. A morte espiritual significa ter a natureza de Satanás” (idem, p.26).
Hagin ressaltou que Jesus não teria morrido apenas fisicamente, mas provado também a morte espiritual. E é nisso que fundamentou a sua teoria de que o Senhor foi torturado no Hades, onde, mediante uma confissão positiva, venceu Satanás e seus agentes.
De fato, o pecado separa o homem de Deus (Is 59.1,2), deixando-o à mercê do Inimigo (Hb 2.14). No entanto, Hagin, ao fazer a assertiva acima, a fez, como veremos, para fundamentar — inevitavelmente, de maneira blasfema — que o Senhor Jesus, ao morrer duas vezes (física e espiritualmente), teria assumido na cruz a natureza de Satanás!
Um leitor desatento poderá não perceber esse desvio, pois Hagin “fundamentou” na Bíblia cada passo de sua argumentação. Mas, ao final, afirmou: “Quando a pessoa nasce de novo, toma sobre si a natureza de Deus — que é vida e paz. A natureza do diabo é ódio e mentiras... Jesus provou a morte — a morte espiritual — por todos os homens... Jesus se fez pecado. Seu espírito foi separado de Deus, e ele desceu para o inferno em nosso lugar”(idem, p.27). Vemos que Hagin, com todas as letras, declara que Jesus assumiu a natureza do Diabo, que é ódio e mentiras.
Hagin diz, ainda, que “Lá embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós, individualmente, porque ele morreu como nosso substituto” (idem, p.28). Creio que foi a partir dessa falaciosa interpretação que pregadores e compositores receberam a “inspiração” para afirmarem que lá no Inferno Jesus abriu nossas cadeias e nos resgatou!
Segundo as Escrituras, Jesus não provou a morte espiritual. Em razão de ter levado os nossos pecados sobre o madeiro (1 Pe 2.24), sofreu sim a rejeição do Pai, mas os textos sagrados que já citamos são claros: Ele morreu como Cordeiro imaculado eincontaminado. E, ao morrer — repito —, não foi ao Hades para sofrer em nosso lugar, e sim paraproclamar a sua gloriosa vitória (1 Pe 3.19).
ZOE: A PRÓPRIA VIDA DE DEUS
O triunfalismo de Hagin fica evidente principalmente em sua obra, também editada no Brasil pela Graça Editorial, Zoe, a Própria Vida de Deus: “Na realidade, eis o que é a vida eterna: Deus comunicando toda a sua natureza, substância e ser aos nossos espíritos... Louvado seja Deus! Tenho a vida e a natureza de Deus. Tenho dez vezes mais sabedoria e entendimento do que o restante da classe” (pp.10,29).
É claro que a Palavra de Deus não afirma que o Senhor comunica toda a sua natureza a nós! Se isso fosse verdade, seríamos onipresentes, oniscientes, onipotentes, onicompetentes... Participamos, sim, da natureza de Deus quanto a seus atributos comunicáveis: amor, bondade, fidelidade, etc. Hagin apegava-se ao texto de 2 Pedro 1.4, porém os versículos 5 a 9 deixam claro que somos participantes da natureza de Deus quanto a seus atributos comunicáveis, relacionados com o seu caráter amoroso, santo e justo.
Entretanto, Hagin não parou por aí. “Deus nos fez tão semelhantes a si mesmo quanto lhe foi possível. Fez-nos para pertencer à sua própria categoria... O Senhor fez o homem como o seu substituto aqui na terra. Ele constituiu-o como rei para governar tudo o que tinha vida. Vivia em termos de igualdade como Criador” (idem, pp.50,51).
Ora, o homem nunca viveu em termos de igualdade com o Criador! Hagin parece tentar convencer os seus leitores de que o crente é um pequeno deus andando na Terra. E, infelizmente, essa teologia falsificada é altamente contagiante — ou contagiosa? —, levando pregadores e compositores da atualidade a declararem, determinarem, decretarem...
No mesmo livro citado, Hagin declarou: “O Senhor é um Deus de fé. Tudo o que tinha a fazer, fê-lo pela Sua Palavra” (idem, p.51)., com a intenção clara de convencer aos seus leitores de que, se Deus, por meio da fé, criou o mundo, todos os crentes podem também fazerem qualquer coisa. Afinal, há poder em suas declarações de fé.
Se Deus precisou de fé para criar todas as coisas, ela é direcionada a quem? Ele não é o Todo-Poderoso? Hagin torce o texto de Hebreus 11.3 para afirmar que Deus tem fé, ignorando que a Palavra de Deus diz: “Pela fé, entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados...” Observe que a fé é nossa, para crer, enquanto o Senhor criou o Universo pela sua Palavra, como vemos em Gênesis 1.
Um dos desvios mais graves de Hagin, ao defender o triunfalismo, é a deificação do ser humano e a conseqüente diminuição do Senhor Jesus. “Nem o próprio Senhor Jesus tem uma posição melhor diante de Deus do que você e eu temos. Talvez alguém suponha que eu esteja usurpando algo de Cristo. Não! Ele continua a desfrutar da mesma glória junto ao Pai. Estou apenas falando dos direitos que nós temos” (idem, p.79).
Que direitos temos nós? Se não fosse a graça de Deus, nada teríamos (Rm 6.23; Ef 2.8-10). A declaração — antropocêntrica e infeliz — de que nem Jesus tem uma posição melhor do que nós vemos por que Hagin contraria as Escrituras. Elas asseveram que o Senhor Jesus é o Alfa e o Ômega, o Todo-poderoso (Ap 1.8). Está acima de todos e tem a preeminência (Jo 1.1-5). Ele é o prõtotokos (Cl 1.15-20).
Observa-se que o objetivo maior da teologia de Hagin sempre foi mostrar que, por meio de nossas declarações de fé, podemos abrir e fechar portas. Foi a partir dessa teologia que pastores, cantores e crentes em geral, abandonando a evangelização e a intercessão, passaram a declarar (“decretar”, “profetizar”, “determinar”) que tal cidade é do Senhor Jesus; que bares e casas de shows serão fechados; que cinemas e teatros só apresentarão filmes e peças evangélicos, etc.
Hagin e seus discípulos difundiram a ideia de que há poder profético em cada declaração de fé, o que não resiste a uma exegese. Aliás, fiz até um gracejo nas redes sociais: Apple lançará tablet para adeptos da confissão positiva: o equipamento se chamará iDetermine, iExige ou iDecrete, pois o nome iPad não agrada o aludido segmento.
Além dos desvios teológicos mencionados, Hagin também exagerou no campo das manifestações exóticas, à semelhança do que aconteceu na Igreja Aeroporto de Toronto (Canadá), não atentando para o que a Palavra de Deus diz em 1 Coríntios 14. Vídeos disponíveis na Internet mostram um Hagin nada equilibrado. Ele dá gargalhadas sem parar, cai sobre pessoas, derrubando-as, põe a língua para fora, como se fosse um lagarto, uiva, etc., num “culto” em que predominou a histeria coletiva.
É por todos esses motivos que não recomendo Kenneth Hagin e sua teologia. É claro que o livre exame é bíblico (1 Ts 5.21), porém o crente que é espiritual discerne bem tudo (1 Co 2.15). Provemos, pois, se os espíritos são de Deus (1 Jo 4.1) e abandonemos o erro, atentando para o que o Senhor Jesus ensinou em Mateus 7.13-27.
Na defesa do Evangelho (Fp 1.16),
Ciro Sanches Zibordi
Fonte: http://cirozibordi.blogspot.com.br/2012/04/quem-foi-kenneth-hagin.html
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