Osmar Ludovico
Ele nasceu numa
estrebaria de uma aldeia obscura, na periferia do império romano. Era filho de
gente muito humilde e seu berço foi um caixote que se usava para dar de comer
aos animais. Quando seus pais o apresentaram a Deus no Templo de Jerusalém, sua
oferta se reduziu a duas pombinhas, oferta estipulada pela lei mosaica em tais
ocasiões para pessoas sem recursos. Com seus pais, deixou seu lar e viveu como
refugiado em terra estrangeira por causa de um decreto imperial que mandava
matar todas as crianças com menos de três anos.
Ele foi criado em
outra aldeia, na casa de um carpinteiro e, quando adulto, chegou a afirmar que
não tinha onde recostar a cabeça. Quando completou trinta anos tornou-se um
pregador itinerante, viajando pelo país com seus doze discípulos. Foi, então,
falsamente acusado e inocentemente condenado. Seus amigos o abandonaram. Depois
de torturado, foi crucificado entre dois ladrões. Quando morreu, aos trinta e
três anos, foi sepultado em um túmulo que um amigo bondoso emprestou.
Jesus Cristo foi
pobre, mas sua pobreza foi algo que ele assumiu voluntariamente, movido pelo
seu amor. Ele era rico, mas fez-se pobre, numa expressão concreta de sua
identificação com a humanidade.
É tempo de os
cristãos dos grandes centros urbanos se arrependerem de usar Deus para
satisfazerem sua ambição material. E aprenderem a viver com simplicidade e
generosidade, ajudando aqueles que não têm para a subsistência diária.
Ouvimos muita gente
dando testemunho de que tinha um carro velho e agora tem dois novos, tinha uma
casa pequena e agora tem duas grandes, que ganhava um tanto, mas agora ganha
três vezes mais. Aceitaram a Cristo, aderiram a tal igreja e prosperaram
materialmente. Nunca ouvi alguém dar testemunho de que se converteu e decidiu
dar uma parte de seus bens para os pobres e para missões.
Cristãos urbanos de
classe média estão imersos numa estrutura consumista, alienados da realidade do
sofrimento de milhares de brasileiros. Pensam em si e no que é seu e confundem
Deus com Mamon, o deus dinheiro. Mamon promete paz, tranqüilidade, vida feliz e
alegria e, portanto, compete com Deus. Muitos acham que estão confiando em
Deus, mas, no entanto, confiam em Mamon.
A sociedade de
consumo nos condiciona e nos leva a desejar possuir cada vez mais coisas,
convencendo-nos de que, tendo mais, seremos mais. Um mundo que pensa e age
somente em termos materiais acabou contaminando o povo de Deus. E igrejas
anunciam conforto material ilimitado para aqueles que aderirem e trouxerem sua
contribuição.
Acabamos todos
preocupados com a vida material, amarrados em contas, crediários, consumo de
supérfluos, símbolos de status, dominados pela ambição de ter mais, sempre
insatisfeitos.
Jesus Cristo, na sua
pobreza voluntária, nos liberta dos condicionamentos da sociedade de consumo e
nos torna dispostos a confiar a Ele toda a nossa vida, dons, talentos, recursos
e tempo para servir com alegria o nosso próximo.
O verdadeiro
conhecimento de Deus gera santidade e serviço, e o verdadeiro conhecimento de
si gera quebrantamento e humildade.
Estas são as virtudes
que a Igreja mais carece nestes dias: santidade, serviço, quebrantamento e
humildade. Portanto, tenhamos discernimento, pois há uma outra teologia por aí
que, ao invés de santidade, gera negócios escusos; ao invés de serviço, gera
egoísmo; ao invés de quebrantamento, gera farisaísmo; ao invés de humildade;
gera busca pelo poder.
Olhemos por um
momento para a vida de Jesus de Nazaré, em quem cremos. Ele abriu mão de seus
direitos e privilégios, esvaziou-se de sua divindade, por amor a nós fez-se
homem, veio para servir e não para ser servido.
Não há nada de errado
em buscar as bênçãos de Deus e uma vida material digna. Errado é acumular sem
repartir. Sodoma e Gomorra, contrariamente ao que muita gente pensa, não foram
destruídas pela sua promiscuidade sexual, mas sim porque acumularam riquezas e
não repartiram: “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba,
fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas, mas nunca amparou
o pobre e necessitado”, Ez 16.49.
Que o Senhor tenha
misericórdia de nós. Que o Senhor tenha misericórdia de sua Igreja. Que o
Senhor tenha misericórdia do Brasil.